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Decreto de Deus e os Conceitos de Fé e Incredulidade

Este artigo dá continuidade ao conteúdo desenvolvido em “Eleição e Reprovação: A Soberania de Deus na Salvação”. Se você ainda não leu aquele artigo, recomendamos fortemente que o faça antes de prosseguir com este: “Decreto de Deus e os Conceitos de Fé e Incredulidade“. Isso porque ali tratamos das bases bíblicas e teológicas da doutrina da eleição e da reprovação — verdades fundamentais para entender o ensino bíblico sobre a salvação. A leitura prévia ajudará você a compreender com mais clareza o que você abordará a seguir, especialmente no que diz respeito à relação entre a soberania divina, a responsabilidade humana, a fé salvadora e a incredulidade.

Ao longo de nossa caminhada de fé, algumas verdades bíblicas se apresentam como desafios para a nossa mente, mas como consolo profundo para o coração. Este artigo é uma continuação do nosso esforço em compreender as doutrinas centrais da fé cristã a partir da perspectiva reformada. Aqui vamos tratar de um tema que envolve tanto a responsabilidade do ser humano diante do evangelho quanto a soberania absoluta de Deus na concessão da fé: por que alguns creem e outros não? E o que isso revela sobre o plano eterno de Deus?

Um Evangelho que Produz Duas Reações

O evangelho é a boa nova de salvação em Jesus Cristo. Porém, ele não deixa ninguém neutro. A Bíblia mostra claramente que, diante dessa mensagem, há dois resultados possíveis: vida ou condenação.

Jesus afirmou:

“Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, porém, não crê no Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” (João 3.36).

Esse é um ponto importante. Veja que a ira de Deus não começa quando alguém rejeita o evangelho. Ela já está sobre o pecador – “sobre ele permanece a ira de Deus” (Jo 3.36). Isso mostra que a incredulidade não é uma posição neutra; ela continua o estado de condenação daqueles que são “filhos da ira” (Ef 2.3), estado do qual Deus resgatou os salvos (Ef 2.4-10).

Por outro lado, Jesus também declarou:

“Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado” (Marcos 16.16).

E o apóstolo Paulo resume a resposta correta ao evangelho de forma simples:

“Se com a tua boca confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10.9).

Ou seja, a pregação do evangelho gera um duplo resultado: os que creem são salvos, e os que não creem permanecem sob condenação.

A Responsabilidade do Homem e o Decreto de Deus

Alguém poderia perguntar: se Deus é soberano e tudo está dentro de seus planos eternos, então o ser humano não tem culpa por não crer? A resposta bíblica é clara: a incredulidade (que consiste na continuação do estado de condenação) é culpa do próprio homem; é algo que está imbuído em sua própria natureza originalmente, e que o impede de crer no evangelho, a menos que seja regenerado.

A Escritura ensina que a causa de nossa rejeição a Deus está no nosso coração pecaminoso, e não em Deus. O livro de Hebreus, ao comentar sobre os que rejeitaram a Palavra, diz:

“Visto, portanto, que lhe resta entrarem alguns, e que por causa da desobediência **não entraram aqueles aos quais anteriormente foram anunciadas as boas novas…” (Hebreus 4.6)

O problema não estava na oferta de salvação, mas na dureza do coração humano. Deus não é o autor do pecado, nem da incredulidade. Essas coisas pertencem ao homem caído, e ele assumirá a responsabilidade por elas.

A Fé como Dom de Deus

Se a incredulidade é inerente a natureza do homem, e ele naturalmente rejeita a Deus, como então alguém pode vir a crer?

A resposta também vem da Escritura: a fé é um dom que vem de Deus.

O apóstolo Paulo afirma:

“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Efésios 2.8).

E aos filipenses, ele escreve:

“Porque vos foi concedida a graça, não somente de crerdes nele, mas também de padecerdes por ele” (Filipenses 1.29).

Portanto, a fé que leva à salvação não é produzida pela força da vontade humana, mas é um presente gracioso de Deus àqueles que Ele deseja alcançar. Isso não diminui a responsabilidade do ser humano; mostra, contudo, a sua incapacidade inerente de crer, que evidencia a incircuncisão do seu coração de pedra, revelando que a salvação, do começo ao fim, é obra do Senhor. Por fim, os que Deus destinou para a vida eterna certamente crerão (Atos 13.48).

O Decreto Eterno de Deus

Diante disso, chegamos a uma doutrina que muitas vezes é mal compreendida, mas que se encontra profundamente enraizada na revelação bíblica: o decreto eterno de Deus.

Deus não apenas conhece o futuro — Ele o ordena. Sustentar o contrário é uma lamentável negação da soberania divina, como, infelizmente, alguns ainda insistem em fazer. Aliás, chegam ao absurdo de retratar Deus como um mero espectador das decisões humanas, alguém que estaria constantemente tentando apagar os “incêndios” provocados pela humanidade. Isso é inadmissível. Deus é soberano, e nada ocorre fora do seu controle e determinação — ainda que, por vezes, isso se dê de forma misteriosa e além da nossa plena compreensão. A Escritura declara que Ele

“faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Efésios 1.11).

Isso inclui também a concessão da fé, que não ocorre por acaso ou por mérito humano, mas segundo a livre e soberana decisão de Deus. Em Atos 13.48, lemos:

“E creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna”.

Esse decreto não é frio ou arbitrário. Ele revela duas coisas ao mesmo tempo:

  1. A misericórdia de Deus em quebrantar e atrair os seus eleitos para a fé em Cristo, ainda que eles antes fossem duros e rebeldes, trocando o coração de “pedra” por um coração de carne.
  2. A justiça de Deus em deixar os não-eleitos em sua incredulidade, conforme sua própria escolha e natureza pecaminosa.

O profeta Ezequiel fala acerca daqueles que tem seu coração trocado por Deus:

“Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis.” (Ezequiel 36.26-27).

Pedro fala daqueles que são postos sob justiça, quando diz:

“…para os que não creem, a pedra que os construtores rejeitaram… se tornou pedra de tropeço… para isso também foram destinados” (1 Pedro 2.8).

Embora esse ensino seja motivo de escândalo para alguns, para os que amam a Deus e confiam na sua Palavra, ele se torna fonte de consolo. Pois, se dependesse de nós mesmos, jamais creríamos. Mas porque Deus é gracioso, Ele nos alcança com Seu poder soberano e amor imerecido.

Conclusão

A doutrina do decreto de Deus, que inclui a eleição para a vida eterna e a justa reprovação de outros, não deve ser tratada com rejeição. Ela é uma verdade revelada nas Escrituras, que humilha o homem, exalta a graça de Deus e consola o coração dos crentes.

Sim, há mistério aqui — e a Bíblia não nos revela todos os detalhes de como Deus age. Mas ela nos ensina o suficiente para sabermos que:

  • Deus não é culpado pela incredulidade de ninguém.
  • O homem é responsável por sua rejeição a Cristo.
  • A fé é um dom que Deus dá soberanamente.
  • Os que creem o fazem por causa do decreto eterno e gracioso de Deus.

E isso não nos leva à frieza, mas à gratidão. Pois, como escreveu Paulo:

“Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e quão inescrutáveis os seus caminhos!” (Romanos 11.33)

Portanto, se hoje você crê em Jesus, alegre-se: isso não vem de você, mas é dádiva do Pai.

E se você deseja fortalecer ainda mais sua compreensão sobre este assunto, sugerimos que leia (ou releia) o artigo anterior desta série: “Eleição e Reprovação: A Soberania de Deus na Salvação”.

Calvinismo e as doutrinas da graça
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Deus, Decretos, Eleição e Predestinação

Petrus van Mastricht, explora profundamente os conceitos de decretos, predestinação e eleição de Deus, destacando a soberania divina e os propósitos eternos de Deus. Com uma abordagem erudita e sistemática, ele oferece uma compreensão clara e bíblica dessas doutrinas fundamentais da teologia reformada.

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Resenhas de livros, artigos sobre inteligência emocional e conteúdos que promovem aprendizado e autodescoberta, com foco na fé cristã.

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