O devocional Café com Deus Pai, escrito por Júnior Rostirola, conquistou espaço nas prateleiras e corações de muitos leitores; até mesmo dentre aqueles não identificados como evangélicos. Com uma linguagem acessível, motivacional e de autoajuda, a obra oferece o tipo de “espiritualidade superficialmente prática” que muitos desejam para o dia a dia. No entanto, por trás de seu tom acolhedor e suas histórias cativantes, há sérias questões teológicas que precisam ser consideradas com sobriedade por qualquer leitor comprometido com a fidelidade bíblica.
Neste artigo, apresentamos uma análise crítica do devocional, contrastando seu conteúdo com alternativas devocionais mais alinhadas ao cristianismo bíblico histórico.
Café com Deus Pai e o problema do antropocentrismo
A crítica mais grave ao devocional é sua orientação antropocêntrica. Ou seja, a mensagem gira em torno do homem, seus sonhos, suas dores, suas conquistas, suas declarações de fé — com Deus ocupando o papel de quem abençoa, abre caminhos e realiza desejos. Cristo e sua obra redentora são, na melhor das hipóteses, coadjuvantes. Enfim, o “evangelho” apresentado em Café Com Deus Pai, é centrado nas “coisas daqui”. Mas a advertência bíblica vai no sentido diametralmente contrário: “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (1 Co 15:19).
Através de frases como “declare sua vitória” ou “você nasceu para vencer”, que permeiam a obra, Café com Deus Pai forja crentes imediatista e materialistas, enquanto temas como pecado, arrependimento, juízo, santidade e cruz — pilares do Evangelho bíblico — são praticamente ignorados. Isso classifica seu conteúdo como uma espécie de autoajuda espiritualizada, que oferece conforto, mas nenhum confronto com a verdade revelada nas Escrituras. Enfim, a proposta do autor tende a um evangelho centrado no ser humano, no qual o foco principal não é Deus nem a exaltação da sua glória, mas sim os desejos, interesses e realizações pessoais do homem.
Teologia da prosperidade e confissão positiva em Café Com Deus Pai
Outro ponto recorrente no livro é a clara influência da teologia da prosperidade e da confissão positiva — doutrinas populares no meio neopentecostal, ligadas a autores como Kenneth Hagin, Benny Hinn, Edir Macedo e R.R. Soares. Essa influência se manifesta na ênfase contínua em “declarações de fé” que produzem resultados materiais, na ideia de que palavras têm poder criador, e na promessa de que o sucesso é direito do crente.
Essa abordagem reduz a soberania de Deus à função de responder aos comandos da fé humana, o que desvirtua o relacionamento entre Criador e criatura. A fé deixa de ser confiança em Deus e Sua vontade, e passa a ser uma ferramenta para controlar resultados. Se o seu objetivo é ter um carro ou uma casa, basta declarar com fé, e isso se tornará realidade — esse é o tipo de mensagem que muitos têm pregado. Porém, quando o Evangelho é transformado em um meio para conquistar bens materiais ou sucesso pessoal, acabamos nos afastando do que realmente importa: o privilégio incomparável de conhecer e se alegrar em Deus.
Uso indevido das Escrituras: textos fora de contexto
O uso de textos bíblicos fora de contexto é uma prática recorrente no devocional. Versículos são extraídos de seus contextos originais para apoiar mensagens de motivação, sucesso e autorrealização — frequentemente em total descompasso com o sentido real do texto.
Essa manipulação, mesmo que não intencional, distorce a mensagem das Escrituras, prejudicando a formação teológica do leitor e criando um entendimento superficial da fé cristã. Texto fora de contexto, gera pretexto, por vezes, culmina em heresia.
Linguagem de autoajuda e atmosfera de coaching presente em Café Com Deus Pai
O tom, o estilo e a estrutura dos textos se aproximam mais de discursos motivacionais típicos do coaching do que de uma genuína reflexão devocional enraizada na Palavra de Deus. Expressões genéricas do tipo: “desbloqueie seu destino”, “acredite no seu potencial” e “Deus quer te fazer prosperar” são recorrentes, promovendo uma espiritualidade emocionalmente cativante, mas superficial em termos teológicos.
O que se nota no âmago de Café com Deus Pai, é uma evidente desconexão com o contexto bíblico e a história da igreja cristã, cuja história dos cristãos nunca foi um “mar de rosas” nem uma “utopia sob as mais belas sinfonias”, mas, trajetórias marcadas por perseguições, renúncias e sofrimentos enfrentados pelos discípulos, pelos primeiros cristãos, e ainda hoje vivenciados por muitos ao redor do mundo que se recusam a negar sua fé.
O próprio Cristo nos advertiu: “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” (João 16:33). Paulo, o apóstolo, faz uma declaração que certamente destoa do conteúdo central do devocional em questão: “…já aprendi a contentar-me com o que tenho. Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura como a ter fome; tanto a ter abundância como a padecer necessidade. Posso todas as coisas naquele que me fortalece.” (Filipenses 4:11-13).
Em suma, a chamada “teologia do coaching” não passa de uma tentativa frustrada de transformar Deus em um assistente pessoal, sempre pronto a satisfazer os caprichos das vontades humanas.
Falta de profundidade bíblica e temas centrais ausentes
Apesar da popularidade, a crítica é clara: falta Bíblia. O texto devocional é repleto de frases que soam bíblicas; apenas soam, mas carecem de boa interpretação bíblica. Não há desenvolvimento dos atributos de Deus, do senhorio de Cristo, da cruz, da justificação, da regeneração, ou da obra do Espírito Santo. Arrependimento e santidade são palavras quase inexistentes. Suas mensagens carecem da centralidade de Cristo; nelas quase não se fala sobre salvação, arrependimento ou transformação de vida.
Comparação com devocionais centrados em Cristo
Em contraste com Café com Deus Pai, existem no mercado editorial devocionais bíblicos, centrados em Cristo, mas que, obviamente, não alcançaram o mesmo destaque que este, justamente pelo fato de não massagearem o ego de ninguém.
Então, se você deseja bons devocionais, que visam a glória de Deus e não o seu bem estar terreno, que exaltam a soberania divina, confrontam o pecado, e convidam o leitor à santificação e à comunhão com Cristo, seguem algumas recomendações: Dia a dia com Spurgeon: Manhã e Noite, Dia a dia com Jonathan Edwards, Dia a dia com Calvino.
Essas obras não massageiam o ego, mas apresentam o Evangelho com fidelidade e reverência, conduzindo o leitor à cruz e à glória de Deus — não ao sucesso terreno.
Enfim, o sucesso de Café com Deus Pai se deve, em grande parte, ao seu apelo emocional, à linguagem motivacional e à promessa de conforto — elementos que ressoam especialmente entre simpatizantes do cristianismo e evangélicos contemporâneos com pouca familiaridade com as Escrituras. O conforto em si não é um problema, mas quando oferecido sem compromisso com a verdade, torna-se perigoso. Um devocional que evita tratar do pecado, distorce as Escrituras e coloca o homem no centro em vez mostrar as misérias humanas e de exaltar a Deus, somente, fracassa em seu propósito mais essencial: conduzir o leitor ao Evangelho.
Por isso, recomenda-se cautela na leitura dessa obra. Para quem deseja crescer na fé de forma saudável, é fundamental buscar devocionais e autores que estejam comprometidos com a Escritura, com a glória de Deus e com o verdadeiro chamado do Evangelho: negar a si mesmo, tomar a cruz e seguir a Cristo.
Clique sobre o link e leia a resenha de Hábitos Espirituais | Prazer Em Jesus Pela Graça Diária

Dia a dia com Spurgeon: Manhã e Noite
Transforme sua rotina espiritual com este devocional único. Com duas meditações diárias, uma pela manhã e outra à noite, “Dia a Dia Com Spurgeon” oferece reflexões profundas sobre diversos temas, escritas por Charles H. Spurgeon no século 19. Com linguagem atualizada e uma biografia do autor que contextualiza suas mensagens, este livro é perfeito para fortalecer sua intimidade com Deus, dia após dia.

Dia a dia com Calvino: Devocional Diário
Há centenas de anos, os escritos de João Calvino (1509–64), permeados com seu pensamento crítico e argumentação teológica, têm impactado leitores diversificados ao redor do mundo. Dia a Dia com João Calvino traz 365 mensagens desse grande teólogo do século 16 objetivando reforçar seu ensino àqueles já familiarizados com sua obra.

Dia a dia com Jonathan Edwards
Com 366 meditações diárias, “Dia a Dia com Jonathan Edwards” oferece exortações e encorajamento, extraídos do coração de um pregador apaixonado pela glória de Deus. Acompanhe passagens das Escrituras e descubra o pensamento de Edwards, um dos principais líderes do Grande Despertamento, e seja desafiado a viver uma verdadeira vida cristã. Uma obra essencial para quem busca crescimento espiritual e uma vida transformada pela paixão divina.

Dia a dia com os Puritanos Ingleses
As 366 reflexões de Dia a dia com os Puritanos foram cuidadosamente selecionadas e editadas preservando a linha de pensamento original desses autores dos séculos 16 e 17. As últimas páginas deste livro trazem uma breve biografia deles. A vida e a prática dos puritanos, bem como a compreensão desses homens sobre a piedade continuam incomparáveis.

Devocional Solo | Entre Você e Deus
Este devocional inovador, baseado no método clássico da lectio divina, convida você a uma jornada de intimidade com Deus, onde cada dia é uma oportunidade de ler, meditar, orar e viver a Palavra de forma profunda e transformadora. Através de 366 meditações, ele oferece uma abordagem contemplativa que vai além do estudo, permitindo uma verdadeira conversa com Deus, ajudando a desacelerar no ritmo acelerado do cotidiano e a aplicar as Escrituras de forma prática e viva em sua vida diária.

Hábitos Espirituais | Prazer em Jesus Pela Graça Diária
Três princípios aparentemente comuns moldam e fortalecem a vida cristã : ouvir a voz de Deus em sua Palavra, falar com ele em oração e unir -se a seu povo como igreja. Muitas vezes, eles são vistos como normais e rotineiros, mas é através desses hábitos da graça que encontramos canais criados por Deus pelos quais seu amor e poder fluem, incluindo a maior alegria de todas: conhecer e deleitar-se em Jesus.