Mente Reformada

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Compreendendo a Formação do Cânon Bíblico

Seja bem-vindo a uma jornada de descoberta sobre a formação do cânon bíblico. Talvez você já tenha sua Bíblia em mãos, organizada e completa. No entanto, nem sempre foi assim. A compreensão de como os livros bíblicos foram reunidos é essencial para fortalecer sua fé.

Neste artigo, explicaremos de forma clara e didática como se formou o conjunto de livros que reconhecemos como a Palavra de Deus. Observaremos a mão soberana de Deus conduziu esse processo. Isso é importante, especialmente para quem está iniciando sua jornada de fé e está em busca de entendimento. Logo, compreender isso, certamente irá ajudá-lo a confiar mais profundamente na autoridade infalível das Escrituras.

Falaremos sobre o significado do termo “cânon”, com o qual você certamente, se ainda não, irá se deparar comumente em seu contexto de fé, bem como, a importância desse termo. Além disso, abordaremos as principais perspectivas teológicas sobre sua formação, destacando os critérios usados pela igreja ao longo da história.

Vamos explorar também os processos históricos que moldaram os cânones do Antigo e do Novo Testamento. Citaremos passagens bíblicas pertinentes, sempre buscando promover compreensão e reflexão. Nosso objetivo é guiá-lo com clareza por esse tema tão fundamental para a fé cristã.

O Significado do Termo “Cânon”

A palavra “cânon” vem do grego kanon, derivado de um termo semítico que significa “cana” ou “junco”. Inicialmente, esse termo indicava um objeto físico usado para medir, como uma régua. Com o tempo, os gregos e os cristãos começaram a usar kanon de forma figurada, com o sentido de “norma”, “regra” ou “aquilo que serve de padrão”. Essa mudança de significado aconteceu gradualmente, tanto na cultura grega quanto no contexto cristão.


Quando falamos de “cânon bíblico”, por exemplo, estamos nos referindo a um conjunto definido de livros que servem como regra de fé e prática para a Igreja. Logo, o termo “cânon” não é apenas uma palavra técnica — ele expressa a ideia de um critério estabelecido que distingue o que é reconhecido como autoritativo.
Portanto, o uso da palavra “cânon” aponta para algo que foi deliberadamente estabelecido como norma. É uma régua espiritual e doutrinária.


O Uso Apostólico do Termo e a Formação do Cânon Bíblico

O apóstolo Paulo empregava o termo com esse sentido normativo. Em Gálatas 6:16, ele escreve: “Paz e misericórdia sobre todos os que andam conforme esta regra (kanoni)”. Aqui, o termo expressa uma diretriz de fé e conduta cristã.

Somente no século IV d.C., o uso da palavra “cânon” se consolidou com o significado específico de “lista de livros sagrados”. Foi nesse período que figuras como Atanásio de Alexandria, em sua Carta Festal de 367 d.C., e o Concílio de Laodiceia (c. 363–364 d.C.) contribuíram para a formação do cânon cristão. No entanto, o Concílio de Hipona (393 d.C.) e o Concílio de Cartago (397 d.C.) consolidaram posteriormente a lista definitiva dos livros canônicos, confirmando a autoridade dos mesmos 27 livros do Novo Testamento reconhecidos hoje.

Desde então, a palavra “cânon” passou a designar o conjunto de escritos reconhecidos como inspirados por Deus e normativos para a fé e a prática da Igreja. Ou seja, não se trata apenas de uma lista aleatória de livros, mas de textos reconhecidos como dotados de inspiração divinda e autoridade espiritual.

Portanto, ao falarmos em “cânon bíblico”, estamos nos referindo aos livros aceitos como padrão divino para orientar a doutrina, a moral e a espiritualidade do povo de Deus.

Por que estudar a Formação do Cânon Bíblico?

Para muitos cristãos, a Bíblia parece um livro que caiu pronto e organizado do céu. No entanto, isso não corresponde à realidade histórica da formação do cânon bíblico. Nos primeiros séculos, os textos sagrados circulavam em rolos, e os cristãos também liam outras obras religiosas. A Igreja precisou, então, discernir quais livros eram de fato inspirados por Deus e úteis para doutrina e fé.

Esse processo se tornou ainda mais necessário por causa das heresias e perseguições que ameaçavam a identidade da fé cristã. Identificar os escritos autênticos era essencial para preservar a verdade do Evangelho. Na Igreja Primitiva, muitos escritos disputavam autoridade. Por isso, os cristãos procuraram critérios claros para reconhecer quais textos pertenciam às Escrituras Sagradas.

O cânon adotado por protestante difere do cânon católico. Os evangélicos aceitam 66 livros, sendo 39 do Antigo e 27 do Novo Testamento. Já a Igreja Católica Romana reconhece 73 livros, incluindo 46 do Antigo Testamento.

Bíblia Protestante e Bíblia Católica na Formação do Cânon Bíblico

A diferença na quantidade de livros entre as bíblias de edição protestante e católica, ocorre porque a Igreja Católica inclui no seu Antigo Testamento os chamados livros deuterocanônicos ou apócrifos. Os judeus e os evangélicos não reconhecem esses livros como inspirados e autoritativos, por isso eles não os incluem em seus cânones bíblicos. Apenas os católicos os consideram parte das Escrituras.

O reconhecimento oficial e definitivo desses livros pela Igreja Católica ocorreu durante o Concílio de Trento, entre 1545 e 1563. Esse concílio foi convocado em resposta à Reforma Protestante, que, inclusive, rejeitava esses livros. Assim, no Concílio de Trento (1546), a Igreja declarou que os 46 livros do Antigo Testamento, incluindo os deuterocanônicos, eram canônicos, ou seja, inspirados e normativos para a fé e a doutrina católica. Essa decisão reafirmou o uso tradicional desses livros na liturgia e no ensino da Igreja.

Entre esses livros estão Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, 1 e 2 Macabeus, além de acréscimos em Ester e Daniel. Os autores os escreveram em grego e hebraico, e a Septuaginta os incluiu geralmente como uma seção à parte, semelhante a um apêndice.

Por isso, o cânon católico é maior, pois considera esses livros essenciais para a doutrina, a moral e a espiritualidade cristã. Já as tradições evangélicas seguem o cânon hebraico tradicional, que não inclui esses textos.

Por Que a Reforma Protestante Rejeitou os Apócrifos na Formação do Cânon Bíblico?

A Reforma Protestante rejeitou os livros apócrifos na formação do cânon bíblico, principalmente por dois motivos ligados à autoridade e à tradição bíblica.

Primeiro, os reformadores defendiam que o cânon do Antigo Testamento deveria seguir o cânon hebraico tradicional, usado pelos judeus, que não incluía os livros apócrifos. Eles acreditavam que somente os textos reconhecidos pelo judaísmo antigo eram inspirados.

Segundo, eles criticavam que muitos ensinamentos presentes nos livros apócrifos não estavam claros ou não tinham respaldo direto nas Escrituras aceitas, e às vezes contradiziam princípios centrais da fé, dentre eles, a doutrina da justificação pela fé.

Além disso, a Reforma valorizava o Sola Scriptura — a ideia de que somente a Bíblia, especialmente os textos reconhecidos como canônicos, é a autoridade final em matéria de fé e prática. Os reformadores rejeitaram os apócrifos porque eles não faziam parte do cânon judaico. Assim, decidiram manter apenas os livros reconhecidos pelo povo de Israel. Por isso, os reformadores não consideraram os livros apócrifos do cânon protestante. Eles reconheceram algum valor histórico nesses escritos, mas não os usaram para formar doutrinas.

Perspectivas Teológicas sobre a Formação do Cânon Bíblico

Existem duas visões principais sobre como se formou o cânon bíblico. A primeira entende esse processo como majoritariamente humano. Nessa perspectiva, os livros não nasceram sagrados. Eles teriam recebido autoridade ao serem aceitos pela comunidade cristã ao longo do tempo, especialmente como resposta a heresias que ameaçavam a doutrina.

Segundo essa visão, a Igreja teria desempenhado um papel ativo na definição do cânon. Ainda que alguns admitam certa direção divina nesse processo, o reconhecimento dos livros dependeria da recepção e uso nas comunidades cristãs, e não de uma inspiração intrínseca desde o início. Essa visão é mais comum fora do contexto evangélico conservador. Ela predomina entre acadêmicos seculares, teólogos liberais e estudiosos da crítica bíblica moderna.

Em contrapartida, a teologia reformada sustenta que a autoridade do cânon não vem da comunidade, mas da inspiração divina desde a origem dos textos. Deus inspirou a escrita dos livros bíblicos no momento em que foram escritos (2 Timóteo 3:16; 2 Pedro 1:21). Portanto, já possuíam autoridade divina, independentemente do reconhecimento humano.

Assim, a Igreja não cria o cânon, mas apenas o reconhece. Ou seja, ela não atribui autoridade aos livros, apenas confirma aquela que eles já possuíam por serem Palavra de Deus. Essa visão destaca que a autoridade das Escrituras antecede e fundamenta a própria existência da Igreja.

Por isso, a teologia reformada afirma: “Não é a Igreja que cria o cânon, mas o cânon que cria a Igreja.” Essa frase expressa a convicção de que a Palavra de Deus molda, corrige e sustenta a fé cristã em todas as épocas.

Dois Testamentos, Uma só Revelação

Dois grandes conjuntos de livros, o Antigo Testamento e o Novo Testamento, formam a Bíblia. Cada conjunto tem sua própria história de formação. Embora se complementem, eles surgiram em épocas e contextos diferentes.

O cânon do Antigo Testamento

O Antigo Testamento reúne os escritos do povo de Israel. Porém, a forma como esses livros são organizados e quantificados varia entre tradições.

  • Os protestantes reconhecem 39 livros no Antigo Testamento. Eles seguem o conteúdo exato da Bíblia Hebraica, usada pelos judeus.
  • Os judeus, no entanto, agrupam os mesmos livros de maneira diferente. Por isso, contam 22 ou 24 livros, embora o conteúdo seja o mesmo.

Três partes organizam a estrutura da Bíblia Hebraica:

  1. Torá (Lei) — de Gênesis a Deuteronômio.
  2. Neviim (Profetas) — de Josué aos Doze Profetas Menores.
  3. Khetuvim (Escritos) — de Salmos a 1–2 Crônicas.

Essas três partes formam o TaNaKH, sigla formada pelas letras iniciais dos nomes em hebraico.

Jesus e os apóstolos usaram esse mesmo conjunto de livros. Eles citaram amplamente o Antigo Testamento, como vemos em Lucas 24:44–45. Isso mostra que o cânon judaico já era respeitado na época do Novo Testamento, embora não houvesse ainda uma “lista oficial”.

Por volta do fim do século I d.C., após a destruição do templo, líderes judeus consolidaram oficialmente seu cânon. Muitos estudiosos acreditam que isso ocorreu no chamado Concílio de Jâmnia (+/- 90 d.C). Essa decisão influenciou mais tarde a escolha dos livros feita por Jerônimo, tradutor da Vulgata, e pelos Reformadores protestantes.

O Cânon do Novo Testamento

Os 27 livros do Novo Testamento foram escritos até o final do século I d.C. Eles foram escritos por apóstolos ou por pessoas diretamente ligadas a eles, todas com relação à primeira geração cristã. Esses textos circularam entre as igrejas cristãs e, desde o início do século II, já eram amplamente conhecidos e usados de forma doutrinária nas entre as igrejas.

Por volta do ano 180 d.C., Irineu de Lyon afirmou com clareza a autoridade dos quatro Evangelhos — Mateus, Marcos, Lucas e João — rejeitando qualquer outra versão. Isso mostra que a Igreja reconhecia esses textos como autênticos bem antes de qualquer concílio oficial.

A primeira lista conhecida com exatamente os 27 livros do Novo Testamento apareceu em 367 d.C., em uma carta festal escrita por Atanásio, bispo de Alexandria. Mais tarde, concílios regionais como o de Cartago (397 d.C.) apenas confirmaram essa lista, reconhecendo os livros já aceitos pelas igrejas.

Alguns escritos, como Hebreus, Tiago, 2 Pedro, Judas e Apocalipse, causaram dúvidas em certas regiões. Por isso, receberam o nome de antilegomena (questionados). Porém, a maioria dos livros — os homolegoumena — foi reconhecida sem grandes dificuldades.

Os Homolegomena

A palavra homolegomena vem do grego e significa “falado da mesma forma” ou “unanimemente aceito”. Na história da formação do Novo Testamento, as igrejas reconheceram amplamente esses livros desde os primeiros séculos, sem gerar controvérsias significativas.

As comunidades cristãs circulavam com autoridade esses escritos e os usavam no ensino, na pregação e no culto. Entre eles, estão os quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), o livro de Atos, as cartas de Paulo (como Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas) e também 1 Pedro e 1 João. Eles sempre fizeram parte do núcleo central da fé cristã.

Os Antilegomena

Por outro lado, antilegomena significa “falado contra” ou “disputado”. Alguns cristãos questionaram esses livros nos primeiros séculos, por isso esse termo os designa. As dúvidas não vinham necessariamente do conteúdo, mas, muitas vezes, da incerteza sobre quem escreveu ou da sua circulação restrita em certas regiões.

Entre os livros considerados antilegomena, estão Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse. Por exemplo, a carta aos Hebreus não menciona seu autor, o que gerou cautela. Já o Apocalipse foi alvo de receio por causa da linguagem simbólica. Algumas dessas cartas também demoraram mais para circular entre as igrejas.

Apesar das discussões iniciais, a Igreja cristã, com o passar do tempo, reconheceu que esses escritos estavam em plena harmonia com a doutrina apostólica. Eles também eram lidos e valorizados por diversas comunidades cristãs.

Mas atenção: antilegomena não significa que esses livros eram rejeitados, apenas que alguns líderes ou igrejas hesitaram em aceitá-los de imediato, por conta dos motivos anteriormente expostos.

Portanto, esse processo foi guiado pela providência de Deus. Ou seja, não foi a Igreja que deu autoridade aos livros, mas Deus que conduziu seu povo a reconhecer os escritos inspirados. Como ensina 2 Pedro 1:21, os autores escreveram movidos pelo Espírito Santo.


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