Pecados persistentes? Não sabe como lidar com os mesmos pecados de sempre? Se você se sente cansado por lutar repetidamente contra o mesmo pecado, saiba que não está sozinho. Essa jornada é uma realidade compartilhada por todos que decidiram seguir a Cristo. A frustração de cair nos mesmos pecados de sempre pode nos levar a questionar a sinceridade da nossa fé. Contudo, a própria existência dessa luta é, na verdade, um sinal de vida espiritual. O coração que não se incomoda com os pecados persistentes já se rendeu, mas o coração que anseia por santidade está em guerra, e essa é a guerra que Deus nos chama a lutar com coragem.
O apóstolo Paulo, um dos maiores pilares da fé cristã, confessou abertamente essa mesma tensão. Ele escreveu (Romanos 7:19):
“Porque não faço o bem que eu quero, mas o mal que não quero, esse faço” .
Se um homem com tamanha envergadura espiritual, um apóstolo, enfrentou essa batalha interna, podemos ter a certeza de que ela faz parte da nossa caminhada terrena. A questão, portanto, não é se vamos lutar, mas como vamos lutar. Uma resposta fraca e desanimada diante de uma transgressão persistente revela um problema mais profundo: uma falha em compreender a verdadeira natureza do nosso inimigo.
Muitas vezes, nossa dificuldade em vencer aqueles pecados persistentes não vem da falta de desejo, mas da falta de uma estratégia correta, fundamentada na verdade bíblica. Combatemos um adversário mortal com armas insuficientes porque não entendemos sua gravidade, seu objetivo final e o que ele representa para o coração do nosso Deus.
O Verdadeiro Diagnóstico: Por Que Continuamos Caindo?
Quando pecados persistentes se entrincheiram em nossa vida, criando um ciclo de transgressão e arrependimento, nossa resposta pode se tornar anêmica, quase protocolar. Pedimos perdão, prometemos mudar, mas, no fundo, uma parte de nós já espera a próxima queda. Essa fraqueza na resposta não é um sinal de que Deus nos abandonou, mas sim de que falhamos em diagnosticar corretamente a doença. A nossa estratégia de combate é falha porque se baseia em uma compreensão superficial do que o pecado realmente é.
A raiz do problema reside em uma falha tripla de percepção. Primeiro, falhamos em reconhecer a natureza séria e radical do pecado. Nós o tratamos como um deslize, um erro infeliz, quando na verdade é uma ofensa direta contra a santidade de Deus. Em segundo lugar, falhamos em compreender o objetivo final do pecado. Não enxergamos que cada ato de desobediência é uma tentativa de destronar Cristo como Senhor da nossa vida. Por fim, falhamos em meditar no santo ódio de Deus pelo pecado, um ódio que precisa gerar em nós uma aversão igualmente intensa.
Se não corrigirmos essa visão, continuaremos lutando com pouca convicção. Apenas quando a gravidade do pecado se torna real para nós, a luta deixa de ser uma obrigação cansativa e se transforma em uma batalha urgente pela honra do nosso Rei.
A Seriedade do Pecado: Mais do que um Simples Erro
Vivemos em uma cultura que busca suavizar a realidade do pecado. Ele é frequentemente rebatizado como “erro”, “fraqueza” ou “escolha ruim”, termos que diminuem seu peso e removem a noção de responsabilidade moral diante de Deus. No entanto, o próprio Jesus Cristo nos ensina a enxergar o pecado com uma seriedade mortal, que exige uma resposta radical. Suas palavras no Sermão do Monte são um poderoso antídoto contra nossa complacência.
Ele afirma: “Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não vá todo o teu corpo para o inferno” (Mateus 5:29). Jesus não está, evidentemente, ordenando a automutilação. Ele usa essa linguagem hiperbólica para nos chocar e despertar para uma verdade vital: a luta pela santidade deve ser levada tão a sério que nenhuma medida é drástica demais. É preferível uma perda radical nesta vida do que a perda eterna da alma. Essa mentalidade de “tolerância zero” com o pecado em nosso coração é o oposto da atitude passiva que muitas vezes adotamos.
Portanto, o primeiro passo para quebrar um ciclo de pecado é reavaliar a sua gravidade. Não se trata de um simples defeito de caráter, mas de uma rebelião contra o Criador do universo. Cada pecado, por menor que pareça, é um ato de traição contra o Deus que nos amou e se entregou por nós. Quando essa verdade se assenta em nossa mente, a batalha muda de figura. Deixamos de ser soldados relutantes e nos tornamos guerreiros determinados a erradicar qualquer coisa que desonre o nome do nosso Senhor e ameace nossa comunhão com Ele.
Primeiro Passo Para Lidar Com Pecados Persistentes: Ore por Iluminação do Espírito Santo
O ponto de partida para uma guerra eficaz contra o pecado não é a força de vontade, mas a humildade da oração. Muitas vezes, estamos cegos para a verdadeira feiura das nossas transgressões. Nós as racionalizamos, as justificamos ou as comparamos com os pecados maiores de outras pessoas. Vivemos imersos em uma cultura hedonista que normaliza o que a Bíblia condena, e, aos poucos, nossa consciência vai se cauterizando. Por isso, o primeiro passo prático e indispensável é clamar para que Deus nos abra os olhos.
Precisamos ir a Deus com uma oração sincera e específica, pedindo que o Espírito Santo atue como um holofote, revelando o mal que se esconde em nosso coração. Não uma oração genérica, mas um pedido desesperado por clareza, como o salmista que clama: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno” (Salmo 139:23-24). Devemos pedir que Ele nos mostre nossos pecados como Ele os vê: hediondos, sujos e ofensivos à Sua santidade. Essa oração pode ser assustadora, pois a verdade pode doer.
Segundo Passo Para Lidar Com Pecados Persistentes: Entenda o Objetivo Final do Pecado
Todo pecado, desde uma mentira aparentemente inofensiva até a mais grave das transgressões, compartilha um mesmo objetivo final: promover uma insurreição. O alvo de Satanás e da nossa natureza pecaminosa é derrubar o governo soberano de Cristo em nossa vida e em nosso mundo. Cada ato de desobediência é, em sua essência, um grito de rebelião que ecoa a arrogância descrita no Salmo 2: “Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas” (Salmo 2:3). O pecado nos convida a declarar nossa própria independência de Deus.
Quando cedemos a uma tentação, estamos, na prática, concordando com a mentira de que o nosso caminho é melhor que o de Deus. Estamos tentando arrancar a coroa da cabeça de Cristo e afirmar que nós somos os verdadeiros reis da nossa vida. Essa compreensão muda radicalmente a nossa perspectiva. O pecado deixa de ser um mero deslize pessoal e se torna um ato de alta traição contra o nosso amado Salvador. Ele não é apenas uma fraqueza a ser gerenciada; é um motim a ser esmagado.
Ao encarar o pecado persistente, pergunte a si mesmo: “A quem estou servindo neste momento?”. A resposta honesta revelará que, naquele instante, estamos nos aliando à rebelião cósmica contra o Senhor. O pecado sussurra ao nosso ouvido para rejeitarmos a Cristo e a Sua Palavra e nos juntarmos à rebelião deste mundo. Ou seja, nosso pecado, é um convite próprio para nos tornarmos nosso próprio deus. Reconhecer essa agenda satânica por trás de cada tentação nos enche de uma indignação santa e nos dá um motivo poderoso para resistir. Não lutamos apenas por nossa pureza, mas pela honra e pela soberania de Deus.
Terceiro Passo Para Lidar Com Pecados Persistentes: Lembre-se do Santo Ódio de Deus pelo Pecado
Para odiarmos nosso pecado como deveríamos, precisamos primeiro compreender o quanto Deus o odeia. A Bíblia é explícita ao afirmar que certas coisas não apenas desagradam a Deus, mas são uma abominação para Ele. O livro de Provérbios nos oferece uma lista clara (Provérbios 6:16-19):
“Seis coisas o SENHOR aborrece, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que trama projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia contendas entre irmãos”.
Sabe qual é o problema hoje, dos cristãos, em relação ao pecado?
A maioria pensa que pecado se resume ao adultério. Sim, o adultério é, de fato, um pecado — e um pecado grave —, mas ele não é o único. Há muitos outros pecados que, embora considerados por nós como “insignificantes”, são igualmente ofensivos à santidade de Deus.
Dito isso, não estou minimizando as consequências nefastas dos pecados de ordem sexual, que, sem dúvida, geram danos profundos no cotidiano da nossa vida humana. No entanto, é essencial entender que outras práticas também afrontam diretamente a santidade de Deus.
No provérbio citado anteriormente (Provérbios 6:16–19), o escritor sacro enumera uma série de pecados que o Senhor aborrece, mas o último da lista, ele assevera que a alma do Senhor abomina: Semear contenda entre irmãos. Sabe a popular “fofoca”? Aquela “retransmissão” de conversas que gera divisão e contenda entre as partes envolvidas? É isso!
Um paradoxo
No momento da nossa queda, somos simultaneamente o objeto do santo ódio de Deus contra o pecado e do Seu perfeito amor pelo pecador. Compreender isso nos protege de dois erros perigosos. Por um lado, impede que tratemos o pecado, principalmente os pecados persistentes, com leviandade. Por outro, nos impede de cair no desespero, pois nos lembra que o amor de Cristo por nós é inabalável. Essa dupla verdade deve nos levar a um arrependimento profundo, movido tanto pelo temor à santidade de Deus quanto pela gratidão ao Seu amor redentor.
A Batalha Interna: Aplicando a Armadura de Deus a Si Mesmo
Muitos cristãos são rápidos em aplicar algumas passagem bíblicas com fervor, como aquela que diz que “a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Efésios 6:12). Usamos esse verso como um chamado para a guerra cultural, para confrontar o mal que vemos no mundo. E isso é justo e necessário.
Contudo, cometemos um grave erro estratégico quando não aplicamos essa mesma intensidade e essa mesma verdade à guerra mais próxima e mais crucial: a batalha contra o pecado em nossa própria vida. A linha de frente dessa grande guerra espiritual não está no mundo; ela está em nosso próprio coração, em nossa mente e em nossos hábitos diários. É ali que Satanás busca estabelecer suas fortalezas. Ele sabe que um cristão derrotado pelo pecado pessoal perde sua autoridade e sua eficácia como testemunha no mundo.
Portanto, precisamos atacar o poder do mal em nossa vida com a mesma energia que dedicamos à crítica ao mundo que nos cerca. A armadura de Deus não foi projetada apenas para a defesa contra ataques externos, mas também para a ofensiva contra o inimigo que reside em nós; ou seja, nós mesmos. A seriedade com que abordamos os pecados da sociedade deve ser, no mínimo, a mesma seriedade com que arrancamos o pecado de nosso próprio coração. A vitória no campo de batalha público começa com a santidade no santuário privado da nossa alma.
Da Luta à Adoração
A jornada cristã nesta terra é, e sempre será, uma jornada de luta. A promessa bíblica não é de uma vida isenta de batalhas, mas de vitória certa para aqueles que perseveram em Cristo. A ausência total de pecado é uma glória reservada para a eternidade. Aqui e agora, nossa vocação é lutar. Lutar com esperança, com estratégia e, acima de tudo, com total dependência do poder que não vem de nós. Os três passos que exploramos — orar por iluminação, entender o objetivo do pecado e lembrar do santo ódio de Deus — não são uma fórmula mágica, mas um reajuste de perspectiva que nos alinha com a verdade.
Ao final, a energia para essa batalha não brota do nosso esforço, mas do Evangelho. É ao olharmos para a cruz que encontramos tanto o motivo quanto o poder para odiar o pecado. Ali vemos o que nosso pecado custou. Ali vemos o tamanho do amor de Deus por nós. A vitória sobre o pecado persistente não é alcançada por pura força de vontade; por mera convenção social, mas ao corrermos continuamente para Cristo e para a Sua Palavra, rejeitando a rebelião que está em nós, pelo poder do Espírito Santo.
Portanto, querido leitor, não desanime. A luta que você enfrenta é real; cada um tem a sua. Mas nosso Salvador é mais real ainda. Cada vez que o Espírito Santo revelar um pecado, não se entregue à vergonha, mas corra para o trono da graça. Confesse, arrependa-se e levante-se para lutar novamente, não com a sua força, mas com a dEle. Pois a verdadeira vitória não está em nunca cair, mas em levantar-se a cada vez, firmados na certeza de que Aquele que começou a boa obra em nós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus.
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Santidade
A santidade é um assunto que parece estar relegado à seção de história dos assuntos religiosos contemporâneos, aliás, o termo santidade parece estranho a muitos cristãos hoje e remete à idéia de homens e mulheres angelicais, imaculados e semi-perfeitos de uma era remota da história cristã.Esta situação torna urgente e atualíssima esta obra clássica de J. C. Ryle, publicada pela primeira vez na Inglaterra em 1879.

@teoreformata
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